domingo, 16 de setembro de 2007

Post inaugural, ou Trinta anos sem Maria Callas

Se eu morrer antes de você, diga a todos quem eu fui.
Maria Callas

Este é o post inaugural de um novo blog, o Ars + Σοφία, dedicado à Arte, à Cultura e ao Conhecimento. E, para uma inauguração mais do que digna, acredito que não haja escolha melhor do que falar de uma das mulheres mais dedicadas à Arte no século passado: a soprano Maria Callas, que faleceu há exatos trinta anos.

Maria Callas (1923-1977)

Chamava-se Cecilia Sophia Anna Maria Kalogeropoulou e nasceu em Nova York no dia 2 de Dezembro de 1923. Filha de imigrantes gregos, desde criança apresentou o gosto pela música. Acompanhava atentamente as transmissões radiofônicas da época e, no ano de 1935, chegou a participar de um concurso de rádio.
Seus pais se separaram em 1937, e Maria mudou-se para Atenas com a mãe, Evangelia. Na capital grega, iniciou os estudos de canto com a famosa soprano Elvira de Hidalgo, professora do Conservatório local. Cantou em várias apresentações em Atenas e, em 1945, decidiu voltar para os EUA. Não conseguiu emprego fixo e mudou-se para a Itália, seguindo conselhos da própria De Hidalgo. Lá aconteceria sua primeira apresentação profissional, em 1947, no papel-título da ópera La Gioconda.
La Divina - como ficou mundialmente conhecida depois das tournées da década de 50 - foi a responsável pelo retorno das óperas de Bellini, então praticamente deixadas de lado, ao repertório internacional. Norma, que desde sua estréia, em 1831, nunca mais tinha deixado de ser apresentada na Itália, passou a ser apresentada mundialmente. Callas gravou, ainda, mais três óperas de Bellini: Il Pirata, La Sonnambula e I Puritani.
O repertório de Callas foi bastante variado: abrangeu Wagner (no início da carreira), Verdi, Rossini, Bellini, Donizetti, Puccini, Cherubini, Spontini, Gounod, Bizet, Ponchielli e tantos outros. Seu timbre, soprano drammatico d'aggilità, permitia-lhe que cantasse tal repertório, já que tinha uma ampla extensão vocal (três oitavas) e bastante agilidade.
Sua vida pessoal foi bastante intensa e conturbada. Em 1949, casou-se com Giovanni Battista Meneghini, seu impresario. Fez um rigoroso regime entre 1953 e 1954, no qual perdeu mais de vinte quilos. Em 1958, conheceu o armador grego Aristóteles Onassis, e no ano seguinte divorciou-se para ficar com ele. Sua última participação em uma ópera foi em 1965, no Covent Garden, em Londres, cantando a Tosca.
Em 1968, Onassis trocou a soprano pela viúva de John Kennedy. Callas ficou muito abalada e aquele seria o começo do fim: praticamente se enclausurou em seu apartamento de Paris (cidade onde morava desde 1966).
Interpretou, em 1969, o papel de Medéia no filme de Pier Paolo Pasolini, a convite do próprio cineasta. Deu algumas masterclasses em Nova York nos anos de 1971 e 1972, e fez uma tournée com o tenor Giuseppe di Stefano em 1974. Daí em diante, seu isolamento foi ainda maior, até que veio a falecer em 16 de Setembro de 1977, em Paris. Estavam a seu lado apenas sua secretária Bruna e seu mordomo-motorista Ferruccio.
Felizmente, Maria Callas deixou muitas gravações de óperas completas e recitais. Sua voz inconfundível, seu timbre metálico e sua magnífica interpretação vocal e cênica tornaram-se um marco para a História da ópera.
O grande barítono Tito Gobbi, seu amigo pessoal, disse em 1977: "Eu pensei que Callas fosse imortal. E ela é.". Sem dúvida alguma: Maria Callas, a maior soprano do século XX, jamais será esquecida.

(O texto acima foi publicado, com algumas alterações, no Jornal de Itatiba de hoje.)